Leitura Obrigatória
O Natal nas Filipinas sempre foi um ato de desafio coletivo — uma reafirmação anual de que a alegria ainda pode ser esculpida da adversidade e a esperança pode sobreviver mesmo quando a governação falha em proteger as pessoas que promete servir.
No brilho suave das lanternas, no calor das famílias que se reúnem apesar dos preços crescentes e das oportunidades decrescentes, encontra-se a resiliência teimosa de uma nação que se recusa a definhar.
Este ano, o país encontra-se numa encruzilhada mais acentuada e perigosa. Os desastres naturais tornam-se mais intensos, as calamidades causadas pelo homem tornam-se mais descaradas, e os ventos políticos e económicos parecem soprar mais forte contra aqueles que já têm menos na vida. O Natal não pode apagar esta realidade; só pode iluminá-la.
Por todo o arquipélago, as famílias que se reconstroem após tempestades enfrentam uma tempestade mais devastadora — uma agitada não pela natureza, mas pelas mãos corruptas daqueles encarregados de liderar. Milhares de milhões destinados ao controlo de inundações desaparecem nos bolsos de intermediários e redes engordadas de clientelismo.
Fundos públicos destinados a hospitais, salas de aula, agricultura e transportes são desviados para os cofres privados de políticos que tratam o orçamento nacional como o seu mealheiro pessoal. A inflação pode ter diminuído no papel, mas a experiência vivida pelos filipinos conta uma história mais dura: salários que já não chegam a meados do mês, contas de eletricidade e água que sobem sorrateiramente, e um mercado de trabalho enfraquecido por escândalos de governação que afugentam os investidores de que a economia necessita desesperadamente. Neste ambiente, os pobres são empurrados não apenas para as margens — mas para além delas.
E, no entanto, mesmo nesta paisagem sombria, algo mais está a agitar-se sob a superfície. A desilusão está a amadurecer em discernimento. As comunidades devastadas por desastres reconhecem que a vulnerabilidade climática é inseparável da vulnerabilidade à corrupção. Os cidadãos veem que cada centro de evacuação não entregue, cada projeto governamental superfaturado e cada contrato dirigido a compadres alargam o fosso entre a sobrevivência e a catástrofe.
O presente indesejado que 2025 colocou debaixo da árvore de cada filipino é a clareza: o país não pode dar-se ao luxo de ter líderes que lucram com a dor do seu povo nem pode continuar a desculpar uma cultura política que recompensa a impunidade e o poder dinástico em detrimento do mérito e da responsabilização. (Rastreando o dinheiro, expondo a rede: um ano de investigações do Rappler)
O ano que se avizinha testará se esta clareza floresce em coragem. O próximo ano não é apenas mais um ciclo eleitoral — é um referendo sobre que tipo de nação estamos dispostos a tornar-nos.
Permitiremos que as mesmas famílias que tratam o cargo público como herança continuem a ditar o nosso destino? Continuaremos a tolerar funcionários que se enriquecem enquanto crianças em centros de evacuação dormem em chãos frios? Continuaremos a aplaudir "homens fortes" que falam de ordem enquanto semeiam o medo, ou fingiremos não ver como a corrupção rouba os pobres muito antes de qualquer tufão? Ou insistiremos finalmente em líderes que entendem que o serviço público é um sacrifício, não uma franquia — líderes que constroem instituições suficientemente fortes para resistir a tempestades, não esquemas suficientemente fortes para resistir a auditorias?
O Natal convida-nos não apenas à ternura, mas também à verdade. A verdade é que as Filipinas encontram-se num momento de viragem. A nossa fragilidade democrática está a mostrar-se. A nossa trajetória económica é incerta. A nossa paciência, esticada pela injustiça, está a esgotar-se. Mas a mesma época também nos recorda que a transformação — de indivíduos, de sociedades, de nações — começa silenciosamente, no lampejo da convicção, na determinação de pessoas comuns que exigem melhor porque sabem que merecem melhor.
Enquanto os fogos de artifício crepitam e as vozes dos coros se elevam neste Natal, que possamos levar um tipo diferente de oração para o ano novo: que encontremos a coragem coletiva para quebrar os ciclos que nos têm partido há gerações; que rejeitemos líderes que nos roubam; que elevemos aqueles que foram ignorados; que nos lembremos de que a governação não é um espetáculo de poder mas uma confiança sagrada. E que todos nós insistamos — finalmente, firmemente — numa Filipinas onde as calamidades não se tornam oportunidades de corrupção, mas catalisadores de reforma.
Este Natal, a nação encontra-se ferida mas desperta. E não há maior presente que possamos dar uns aos outros do que o compromisso inabalável de construir um país onde a esperança não seja apenas sentida durante as férias, mas vivida todos os dias do ano.
Feliz Natal a todos! – Rappler.com
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