Toffoli, relator do caso Master no Supremo, marcou acareação controversa entre investigados e diretor do BC BBC News fonte NurPhoto via Getty ImagesToffoli Toffoli, relator do caso Master no Supremo, marcou acareação controversa entre investigados e diretor do BC BBC News fonte NurPhoto via Getty ImagesToffoli

Banco Master: depoimentos de Vorcaro e de diretor do BC abrem novo capítulo da investigação no STF

2025/12/30 18:57
Toffoli, relator do caso Master no Supremo, marcou acareação controversa entre investigados e diretor do BC — Foto: NurPhoto via Getty Images/BBC News Toffoli, relator do caso Master no Supremo, marcou acareação controversa entre investigados e diretor do BC — Foto: NurPhoto via Getty Images/BBC News

A liquidação do Banco Master pelo Banco Central (BC) e as suspeitas de fraudes financeiras envolvendo também o Banco Regional de Brasília (BRB) viraram alvo do Supremo Tribunal Federal (STF), em meio a questionamentos envolvendo decisões do ministro Antonio Dias Toffoli, relator da investigação na Corte.

Após decretar sigilo sobre o caso após levá-lo para o STF, o ministro marcou uma acareação entre o dono do Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do banco BRB Paulo Henrique Costa, e um dos diretores do BC, Ailton de Aquino, nesta terça-feira (30/12).

Na véspera do procedimento, porém, o STF esclareceu que, na verdade, os três prestarão depoimentos separadamente à Polícia Federal. Depois disso, a delegada responsável fará a acareação, caso considere necessário.

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Acareações servem para esclarecer controvérsias em versões dadas em uma investigação ou processo. No entanto, nesse caso, a medida foi marcada por Toffoli apesar da oposição do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Gonet avaliou que o procedimento seria prematuro, já que ainda não haviam sido colhidos depoimentos dos envolvidos com possíveis contradições a serem esclarecidas.

O Banco Central, por sua vez, apresentou um pedido de esclarecimentos sobre a participação de Ailton de Aquino na acareação.

No sábado (27/12), ao julgar esse recurso, Toffoli manteve o procedimento e informou que nem o BC nem o diretor eram alvos de investigação. Apesar disso, considerou que seria "salutar" sua participação.

"Tendo em vista que o objeto da investigação tange à atuação da autoridade reguladora nacional, sua participação nos depoimentos e acareações entre os investigados é de especial relevância para esclarecimento dos fatos", disse o ministro, na decisão.

Segundo o STF, os depoimentos e a potencial acareação estão marcados para as 14h desta terça e serão realizados virtualmente. Esses procedimentos serão acompanhados por um juiz auxiliar do gabinete de Toffoli e pelo Ministério Público.

O BRB, banco público do Distrito Federal, chegou a tentar comprar o Master, mas o Banco Central não autorizou o negócio. Há suspeitas de fraudes sobre operações bilionárias entre as duas instituições.

Diretor de fiscalização do BC, Ailton de Aquino se manifestou a favor da compra do Master pelo BRB, mas sua posição ficou vencida dentro da autoridade monetária, que optou pela liquidação da instituição.

O caso Master também revelou uma rede de contatos de Vorcaro com autoridades em Brasília, que vão de políticos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro a ministros do STF, como o próprio Toffoli e o ministro Alexandre de Moraes, cuja esposa tem um contrato milionário como advogada do banco liquidado.

Segundo o jornal O Globo, que revelou a existência do contrato da mulher de Moraes com o banco, o ministro teria pressionado o presidente do BC, Gabriel Galípolo, sobre a venda do banco Master, o que ambos negam.

No caso de Toffoli, o ministro viajou para assistir à final da Libertadores entre Flamengo e Palmeiras, em Lima, no Peru, no mesmo voo particular que um advogado de um dos diretores do banco.

A coincidência chamou atenção porque a viagem ocorreu no final de novembro, logo após Toffoli ter sido sorteado para relatar o recurso apresentado pela defesa de Daniel Vorcaro na Corte.

No dia seguinte ao sorteio, o ministro embarcou no jatinho em que estava o advogado Augusto Arruda Botelho, defensor de um dos diretores do Master e ex-secretário Nacional de Justiça no início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No voo, estavam também o empresário Luiz Oswaldo Pastore, dono da aeronave, e o ex-deputado Aldo Rebello.

O ministro confirmou que viajou no avião e afirmou a interlocutores, segundo o jornal O Globo, que não discutiu o processo durante o trajeto.

Pouco depois, em 3 de dezembro, Toffoli colocou o caso sob sigilo e decidiu transferir o inquérito para o STF, sob sua própria relatoria, atendendo ao pedido de um diretor do Master — o mesmo pleito feito anteriormente pelos advogados de Vorcaro.

Ele acolheu a solicitação com base na citação de um deputado federal nas investigações, autoridade com prerrogativa de foro privilegiado.

O ministro justificou o sigilo afirmando que o inquérito envolve informações econômicas sensíveis, com potencial impacto no mercado financeiro. Na prática, todas as decisões futuras sobre a investigação passam a ser tomadas por ele, e não mais pela Justiça Federal em Brasília.

As controvérsias envolvendo Moraes e o BC

Contrato de banco com o escritório da esposa de Moraes gerou críticas — Foto: BBC News fonte Contrato de banco com o escritório da esposa de Moraes gerou críticas — Foto: BBC News fonte

No caso de Alexandre de Moraes, o ministro virou alvo de questionamentos após a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, ter noticiado que ele teria procurado o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pelo menos quatro vezes para fazer pressão a favor do Banco Master.

Segundo a colunista, ao menos três contatos foram por telefone e um foi presencial para tratar de problemas sobre o banco de Daniel Vorcaro.

Em nota divulgada na quarta-feira (24/12), a assessoria do STF afirmou que Moraes teve duas reuniões com o presidente do BC para tratar dos efeitos da Lei Magnitsky — "a primeira no dia 14/08, após a primeira aplicação da lei, em 30/07; e a segunda no dia 30/09, após a referida lei ter sido aplicada em sua esposa, no dia 22/09. Em nenhuma das reuniões foi tratado qualquer assunto ou realizada qualquer pressão referente à aquisição do Master pelo BRB".

A Magnitsky é uma lei americana que pune estrangeiros que considera autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.Moraes foi sancionado pela lei no fim de julho Moraes foi sancionado pela lei no fim de julho, e sua esposa, em setembro — em meio a críticas do governo de Donald Trump a ações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro na Justiça brasileira, muitas delas relatadas por Moraes.

Mas, no início de dezembro, o governo Trump retirou Moraes e a esposa da lista dos sancionados pela Magnitsky.

De acordo com a nota, Moraes não esteve no Banco Central e não ligou para Galípolo para tratar do assunto.

"Esclarece, ainda, que jamais esteve no Banco Central e que inexistiu qualquer ligação telefônica entre ambos, para esse ou qualquer outro assunto. Por fim, esclarece que o escritório de advocacia de sua esposa jamais atuou na operação de aquisição Master-BRB perante o Banco Central", diz nota do STF.

Após o comunicado do STF, o Banco Central também emitiu uma nota para confirmar que reuniões com Moraes foram feitas para tratar dos efeitos da sanção aplicada pelos Estados Unidos.

No último dia 12, a Polícia Federal (PF) encontrou no celular de Vorcaro um contrato de R$ 129 milhões firmado com o escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, esposa de Alexandre de Moraes.

O valor também foi revelado pelo jornal O Globo. O documento, localizado na Operação Compliance Zero em 18 de novembro, previa pagamentos mensais de R$ 3,6 milhões ao escritório por três anos a partir de 2024.

O contrato, ainda segundo o jornal, não especificava processos ou causas determinadas. Estabelecia uma atuação ampla, determinando que o escritório representaria o banco "onde fosse necessário".

Embora o Master tenha sido liquidado e o acordo não tenha sido executado até o fim, mensagens trocadas entre executivos indicavam que o pagamento ao escritório era tratado internamente como prioridade, afirma a reportagem.

Além de Viviane, os filhos do casal, também integrantes da banca, aparecem em ao menos um processo ligado a Vorcaro.

Operações bilionárias entre BRB e Master estão sendo investigadas — Foto: BBC News fonte Operações bilionárias entre BRB e Master estão sendo investigadas — Foto: BBC News fonte

Outras conexões de Vorcaro

Além dos vínculos com ministros do STF, as doações eleitorais também revelam possíveis conexões políticas envolvendo o Banco Master.

O empresário Fabiano Campos Zettel, cunhado de Daniel Vorcaro, foi o maior doador pessoa física das campanhas de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Jair Bolsonaro (PL) em 2022.

Casado com Natália Vorcaro Zettel, irmã do banqueiro, ele transferiu R$ 3 milhões para a campanha presidencial de Bolsonaro e R$ 2 milhões para a do governador de São Paulo.

Zettel é fundador e CEO da Moriah Asset, um fundo de private equity — modalidade de investimento que compra participações em empresas que não estão na bolsa. Por meio da Moriah, ele é sócio de marcas como Oakberry, Les Cinq, Frutaria São Paulo e Empório Frutaria.

Em 2022, ele foi o sexto maior doador pessoa física do país. Pela legislação eleitoral, indivíduos podem doar até 10% da renda bruta do ano anterior à eleição.

A assessoria de imprensa de Tarcísio afirmou que sua campanha contou com mais de 600 doadores e que o governador não possui qualquer vínculo ou relação com Zettel.

"Vale destacar que a prestação de contas de Tarcísio foi devidamente aprovada pela justiça eleitoral", diz a nota enviada à BBC News Brasil.

A liquidação do Master

A liquidação do banco Master ocorreu no dia 18 de novembro, mesmo dia em que uma operação levou à prisão de Vorcaro e de outros executivos do banco.

Em 28 de novembro, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região concedeu habeas corpus e mandou soltar Vorcaro, os ex-diretores Luiz Antonio Bull, Alberto Feliz de Oliveira e Angelo Antonio Ribeiro da Silva, além de Augusto Ferreira Lima, ex-sócio do banco.

Eles são monitorados por tornozeleira eletrônica e estão proibidos de exercer atividades no setor financeiro, de ter contato com outros investigados e de deixar o país.

A quebra do Master é a maior da história do país em impacto para o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — associação privada que funciona como uma espécie de sistema de garantia de depósitos, cobrindo investimentos de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ (por instituição financeira) em caso de quebra de alguma instituição associada.

Segundo o FGC, 1,6 milhão de investidores do banco, que detinha R$ 41 bilhões em CDBs, poderão ser ressarcidos.

A PF investiga suspeitas de fraudes na concessão de créditos, emissão de títulos irregulares e criação de carteiras falsas — operações que, segundo os investigadores, movimentaram valores bilionários e alimentaram uma tentativa de venda da instituição ao BRB.

Com informações de Rute Pina e Marina Rossi

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