O balanço de mortos pelo pior incêndio em décadas em Hong Kong aumentou esta sexta-feira para pelo menos 94, enquanto os bombeiros conseguiram extinguir quase completamente o fogo e procuram entre os arranha-céus residenciais carbonizados numerosos desaparecidos.
Nas primeiras horas de sexta-feira (hora local), as autoridades desta cidade semiautónoma chinesa informaram que as chamas foram contidas em quatro das oito torres do complexo habitacional afetado, que conta com cerca de 2.000 apartamentos.
As chamas deflagraram na tarde de quarta-feira nos tradicionais andaimes de bambu que rodeavam os edifícios de 31 andares da urbanização Wang Fuk Court, no distrito Tai Po da zona norte, que se encontrava em obras.
Pelo menos 76 pessoas ficaram feridas, entre elas 11 bombeiros, segundo um porta-voz da cidade, que alberga alguns dos blocos residenciais mais altos e densamente povoados do mundo. Ainda há numerosos desaparecidos, embora o número não seja atualizado desde quinta-feira.
Um repórter da AFP viu na sexta-feira que a conflagração diminuiu significativamente, embora esporadicamente saíssem faíscas e fumo espesso da estrutura.
Os bombeiros continuavam a pulverizar o edifício com água para arrefecer a estrutura e evitar que as brasas se reacendessem.
As autoridades investigam o que provocou o incêndio, o pior em quase 80 anos no centro financeiro asiático, incluindo a presença dos altamente inflamáveis andaimes de bambu e redes protetoras de plástico com as quais comummente se envolvem os edifícios em reparação na cidade.
O organismo anticorrupção de Hong Kong lançou uma investigação sobre as obras de reforma no complexo afetado. Horas antes, a polícia informou da detenção de três homens suspeitos de terem deixado negligentemente invólucros de espuma no local.
Residentes de Wang Fuk Court disseram à AFP que não ouviram nenhum alarme de incêndio e que tiveram de ir porta a porta para alertar os vizinhos do perigo.
"O fogo propagou-se muito rapidamente. Vi uma mangueira a tentar salvar vários edifícios e pareceu-me que era demasiado lento", disse um homem identificado como Suen.
Das 94 pessoas cuja morte foi confirmada na madrugada de sexta-feira, uma era um bombeiro de 37 anos e duas eram migrantes da Indonésia que faziam trabalho doméstico.
Trata-se do incêndio mais mortífero de Hong Kong desde 1948, quando uma explosão seguida de uma conflagração causou a morte de 135 pessoas.
No entanto, o número de vítimas poderá aumentar, já que o chefe executivo da cidade, John Lee, afirmou na quinta-feira que 279 pessoas continuavam desaparecidas, o último número disponível desde então.
Os bombeiros disseram mais tarde que tinham contactado com algumas.
Pelo menos 12 sobreviventes permanecem em estado crítico, e as autoridades hospitalares descreveram o estado de outros 28 como "grave".
Num centro comunitário próximo do local do incêndio, a polícia mostrou fotos de cadáveres resgatados com a esperança de identificar as vítimas.
"Se os rostos são irreconhecíveis, há objetos pessoais para que as pessoas possam identificá-los", assegurou Cheung, uma mulher que procurava os seus familiares. "Não posso descrever o que sinto. Havia crianças", disse.
Os incêndios mortais eram antes uma praga habitual na densamente povoada Hong Kong, especialmente nos bairros mais pobres, mas a melhoria das medidas de segurança tornou-os muito menos frequentes.
Lee anunciou que o governo inspecionará todas as urbanizações com obras importantes. O segundo funcionário da cidade, Eric Chan, acrescentou que era "imperativo acelerar a transição completa para andaimes metálicos".
Também será criado um fundo de 300 milhões de dólares de Hong Kong (38,5 milhões de dólares americanos) para ajudar as vítimas.
As atividades relacionadas com as eleições legislativas de Hong Kong, previstas para 7 de dezembro, foram suspensas.
Durante as primeiras horas da emergência, partes de andaimes carbonizados caíram dos blocos em chamas. Pelas janelas viam-se os apartamentos engolidos pelo fogo.
Os bombeiros disseram que o vento e os escombros arrastados provavelmente propagaram o fogo de um edifício para outro.
Alguns dos residentes dos blocos adjacentes que tinham sido evacuados por precaução puderam regressar às suas casas na quinta-feira à tarde.
Multidões comovidas pela tragédia reuniram-se perto do complexo para organizar ajuda para os afetados.
"É realmente comovedor. O espírito dos habitantes de Hong Kong é que, quando alguém tem problemas, todos lhe prestam o seu apoio", afirmou Stone Ngai, de 38 anos, um dos organizadores de um posto improvisado.


