O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não é um grande fã das stablecoins.
Em uma palestra recente, Galípolo disse que o PIX já resolveu de forma “elegante” todos os problemas que as stablecoins tentam resolver.
Mas fez uma ressalva: há um espaço claro a ser preenchido para os pagamentos e investimentos transfronteiriços.
É exatamente esse ponto que a Crown – uma startup fundada em 2024 pelo advogado americano John Delaney – nasceu para atacar. Seu objetivo: facilitar o acesso do investidor internacional a ativos brasileiros.
Delaney, que começou no mundo cripto em 2013 fazendo arbitragem de bitcoin, percebeu que mesmo com as constantes crises de desvalorização do real frente ao dólar, o carrego da Selic era quase sempre mais lucrativo do que o retorno do dólar.
“O juro é tão alto no Brasil que quem vendeu dólar para comprar real, só carregando a Selic, acabou tendo mais retorno em dólar do que quem ficou aplicado em ativos atrelados à LIBOR, por exemplo,” Delaney disse ao Brazil Journal.
Mas aí havia um problema: os investidores estrangeiros tinham uma enorme dificuldade de acessar investimentos no Brasil, já que a grande maioria está em real.
Com o avanço das stablecoins, Delaney encontrou uma saída para esse problema: em outubro, lançou a BRLV, uma stablecoin 100% lastreada no real. Apesar do pouco tempo, a BRLV já ultrapassou R$ 360 milhões em subscrições – tornando-se a maior stablecoin de um mercado emergente.
Segundo Delaney, a BRLV é lastreado integralmente em títulos públicos brasileiros. Ele explica que a estrutura – conhecida tecnicamente como bankruptcy remote – assegura que mesmo em um cenário extremo de falência da emissora, os detentores do token mantenham direitos legais sobre o lastro.
“O Genius Act prevê estruturas como a nossa. Ou seja, nós implementamos isso antes mesmo da aprovação da lei nos Estados Unidos,” disse ele.
A tese atraiu US$ 21,6 milhões em aportes desde o início da Crown – incluindo a rodada seed e uma Série A que acaba de ser concluída. No pool de investidores estão a Paradigm, um dos principais fundos globais do universo cripto, Framework Ventures, Valor Capital Group, Coinbase Ventures, Norte Ventures, Paxos e Edward Wible, um dos cofundadores do Nubank.
A Série A avaliou a empresa em US$ 90 milhões, segundo Delaney.
Com o dinheiro, a Crown quer escalar sua participação no mercado brasileiro, desenvolvendo novos produtos e estruturando parcerias com instituições financeiras e gestoras.
Para o fundador, há uma oportunidade clara: permitir que ativos brasileiros – como crédito privado, recebíveis e títulos públicos – migrem para o mundo do blockchain sem serem dolarizados no processo, diminuindo a barreira para o investidor gringo.
Entre os investidores na BRLV estão a Atmos Capital, que participou do desenho da arquitetura da stablecoin desde o início, e a Citrino Gestão, o family office da família Ermírio de Moraes.
O modelo será o seguinte: os fundos compram a stablecoin e serão remunerados muito próximo de 100% do CDI, mas com um compromisso de longo prazo.
“A nossa intenção é que eles se tornem acionistas no longo prazo, pois eles ajudam a garantir que nossa estrutura e nossos sistemas atendam às mais altas exigências de parceiros institucionais,” disse Delaney.
Segundo Marcelo Cabral, sócio da Citrino, a gestora já estava de olho no avanço do blockchain mas não encontrava uma empresa que entendesse o mercado e tivesse um arcabouço institucional sólido. Ele achou isso na Crown.
Delaney é ambicioso com o futuro da BRLV: sua meta é que 8% da base monetária brasileira migre para o blockchain na próxima década – o equivalente a R$ 1 trilhão.
“Não é para substituir o que já funciona. É para criar uma camada nova de infraestrutura, conectando o que já existe ao mundo digital,” disse.
Delaney disse que boa parte do investimento será usado para contratar mais gente – hoje a Crown conta com sete funcionários.
“Todos na empresa são muito seniors: então, contratar mais três, quatro, cinco pessoas é um investimento bem significativo,” disse.
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