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Nos últimos anos, assistimos a uma erosão silenciosa e devastadora no tecido que sustenta sociedades, negócios e relações humanas: a confiança. As pessoas confiam menos nos governos, menos nas empresas e, cada vez mais, menos umas nas outras.
Vivemos uma crise global de credibilidade, onde todo discurso é questionado, toda promessa é recebida com ceticismo e cada incoerência é amplificada em segundos.
No ambiente corporativo, isso se tornou um divisor de águas. Há marcas que entenderam o movimento e estão construindo relações de confiança de forma ativa, e há aquelas que continuam achando que confiança é “um efeito colateral”, e não um KPI estratégico. A diferença entre elas será, cada vez mais, a diferença entre sobreviver e desaparecer.
Consumidores, colaboradores e parceiros já não acreditam no que as empresas dizem. Acreditam no que elas fazem.
A dissonância entre discurso e prática nunca esteve tão evidente:
Esse “gap de realidade” entre o que as empresas anunciam e o que de fato praticam é a força que alimenta a crise de confiança.
E os dados confirmam essa tendência.
Um estudo recente mostra que 94% dos profissionais de marketing B2B consideram a confiança essencial para o sucesso de longo prazo. Outro aponta que marcas percebidas como éticas e competentes são justamente as que mais crescem em reputação e preferência.
A confiança deixou de ser um valor abstrato. Virou variável econômica, indicador de crescimento e critério de escolha.
O marketing sempre mediu alcance, frequência, CAC, LTV, NPS. Mas agora uma nova métrica entra no jogo: Índice de Confiança.
Empresas à frente já tratam confiança como um ativo estratégico. Medem:
E por que isso importa?
Porque a confiança:
Confiança é um multiplicador silencioso e poderosíssimo.
Simples: porque passaram a enxergar incoerência onde antes havia narrativa. A era dos bastidores acabou. A empresa é vista e julgada em 360 graus.
O discurso institucional precisa ser idêntico ao que funcionários experimentam, ao que clientes sentem, ao que a comunidade percebe e ao que os acionistas observam.
Autenticidade virou diferencial competitivo.
E aqui está a provocação central: no mundo atual, toda empresa é uma empresa de confiança. A diferença está em assumir isso ou não.
Empresas que desejam relevância nos próximos anos precisarão incorporar três compromissos explícitos:
1. Consistência radical entre discurso e prática
Marketing não corrige incoerência.
Branding não sustenta hipocrisia.
Cultura não se impõe com palavras, se revela em ações.
A estratégia de confiança exige alinhamento total: o que a empresa fala = o que ela faz = o que ela recompensa = o que ela tolera.
2. Transparência ativa e vulnerável
Falar apenas de vitórias não inspira.
Assumir erros, explicar decisões difíceis, abrir indicadores e demonstrar limites cria empatia e reduz o ruído da suspeita.
Na era da hiperexposição, não existe opção entre “ser transparente” e “não ser transparente”.
Existe apenas “ser transparente” ou “ser exposto”.
3. Propósito real e impacto verificável
Não adianta ter uma causa bonita no site e práticas arcaicas na operação.
A empresa precisa mostrar, com fatos, como seu negócio contribui para a sociedade, ou, no mínimo, como evita prejudicá-la.
Propósito sem prática é só marketing.
E marketing sem confiança é só ruído.
Não “parece confiável”. Não apenas “se posiciona como confiável”. Mas é, de fato, confiável?
Na prática, isso significa:
Se a resposta for “não” para qualquer uma dessas perguntas, é hora de rever estratégia, cultura, incentivos e prioridades.
E, assim como todo sistema, este exige desenho, métricas, rituais, práticas e accountability.
A crise de confiança que vivemos não vai desaparecer sozinha.
Mas empresas que enxergarem a confiança como estratégia central de crescimento vão emergir mais fortes, mais respeitadas e muito mais relevantes.
Porque, no fim, a pergunta mais importante que os consumidores farão não é:
“Quanto custa?”
Mas sim:
“Posso confiar?”
E essa será a linha que separará as empresas que durarão das que ficarão pelo caminho.
*Rodrigo Rocha é especialista em longevidade de negócios, com mais de 20 anos de experiência em marketing, inovação e crescimento no Brasil e no exterior


