A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) colocou o Congresso Nacional e o peso dos juros da dívida pública no centro de sua mensagem de Ano Novo ao apontar os principais fatores que, segundo os bispos, comprometem a capacidade do Estado de enfrentar desigualdades e fragilizam a democracia no país. O texto afirma que o pagamento “exorbitante de juros e amortizações da dívida” reduz o espaço para investimentos em áreas essenciais como educação, saúde, moradia e segurança. Eis a íntegra (PDF – 209 kB).
Na avaliação da CNBB, esse cenário financeiro se soma a retrocessos institucionais observados ao longo de 2025. O documento atribui ao Congresso papel central nesse processo ao mencionar a “perda de decoro e a falta de responsabilidade por parte de algumas autoridades, especialmente do nosso Congresso Nacional”. Para os bispos, decisões legislativas e disputas de poder contribuíram para enfraquecer mecanismos democráticos e ampliar a desconfiança nas instituições.
A mensagem também critica a flexibilização de marcos legais considerados essenciais, como a Lei da Ficha Limpa, e aponta impactos diretos de votações no Congresso sobre temas sensíveis, como o desrespeito a povos originários após a aprovação do Marco Temporal e as mudanças na legislação ambiental. Segundo a CNBB, esses movimentos aprofundam tensões sociais e colocam interesses econômicos acima do bem comum.
Embora faça críticas duras, o texto mantém o tom de contraste ao reconhecer avanços em áreas como saúde, economia e sustentabilidade. Ainda assim, os bispos afirmam que ganhos pontuais não compensam a combinação entre endividamento elevado, priorização do pagamento de juros e decisões políticas que fragilizam a ética pública.
Entre os pontos positivos destacados, a CNBB menciona avanços na saúde, como o aumento da proporção de médicos por habitante e a valorização do SUS (Sistema Único de Saúde). No campo econômico, o texto registra a retirada de tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros, a estabilidade da inflação, a queda do desemprego, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), a expansão do cooperativismo e a abertura de novos mercados internacionais.
A mensagem também ressalta a realização da COP-30, em Belém (PA), e o papel do Brasil na consolidação de sua liderança em energias renováveis. Segundo os bispos, a Igreja participou do debate climático “não como protagonista político”, mas com o objetivo de contribuir para caminhos comuns diante da crise ambiental e do cuidado com a “Casa Comum”. O texto cita ainda o aumento do investimento privado em práticas de sustentabilidade e a realização de plebiscito popular sobre redução da jornada de trabalho e taxação proporcional à riqueza.
Ao final, a CNBB defende que nenhum projeto político deve se sobrepor à vida, à justiça social e à democracia. Reafirma a necessidade de diálogo, responsabilidade institucional e cuidado com o país, afirmando que discursos de ódio, manipulação da verdade e interesses particulares não podem prevalecer sobre o interesse coletivo.


