Aplicativo Merlin Bird — Foto: Reprodução/Merlin Bird
Um aplicativo treinado para identificar os cantos de mais de 1.300 espécies de pássaros em todo o mundo tem ganhado notoriedade. Chamado Merlin Bird ID, o app gratuito, desenvolvido pelo Cornell Lab of Ornithology, em Nova York, escuta o canto das aves, identifica a espécie que está cantando e já foi baixado 33 milhões de vezes, em 240 países e territórios ao redor do mundo.
Segundo o The Guardian, todos os meses, há um crescimento de 30% no número de novos usuários do app, cuja função de identificação por som foi lançada em 2021 e que adiciona novas aves ao seu catálogo duas vezes por ano.
Cantos diferentes formam padrões distintos nos espectrogramas, e o Merlin aprende a reconhecer essas diferentes formas e a associá-las a uma espécie.
Quando Natasha Walter, escritora e ativista de direitos humanos, começou a se interessar pelas aves, ela gravava os cantos no celular e, com muito esforço, tentava combinar cada som com gravações disponíveis na internet. Foi através de uma amiga que ela conheceu o Merlin Bird ID. “É para isso que a IA e o aprendizado de máquina foram inventados. É a única coisa boa.”
Ela conta que tinha medo no início de não aprender de verdade, porque eu estaria "terceirizando" seu entendimento das aves para o app. “Mas isso não aconteceu. Ele me ajudou a continuar minha jornada de aprendizado”, disse ela ao The Guardian. Hoje em dia, ela arrisca palpites e usa o Merlin para confirmar suas suspeitas.
Aplicativo Merlin Bird — Foto: Reprodução/Merlin Bird
Já Angela Townsend começou a usar o Merlin depois de participar de uma caminhada noturna para ouvir rouxinóis e notar uma variedade de vozes no coro do entardecer. Ela conta que o app tem ampliado gradualmente seu conhecimento sobre aves. “As toutinegras eram só ‘passarinhos marrons’, mas agora consigo reconhecer a toutinegra-de-Cetti e a toutinegra-dos-salgueiros quando estou fora, sem precisar ligar o aplicativo”, diz.
O Merlin, porém, não é infalível. Na primeira vez que Kasper Wall, de 12 anos, o testou em seu jardim, o app identificou um cardeal-do-norte e um chupim-de-cabeça-marrom, espécies da América do Norte que não existem na Grã-Bretanha, onde mora.
“Acho que ele estava tentando descobrir onde a gente mora”, disse Wall. “Algumas semanas atrás, estávamos olhando um grande grupo de estrelinhas-reais e ele indicou um estrelinha-de-crista-laranja. Pensei: ‘Ah, deve haver um desses aqui também’, e 30 segundos depois vimos um. Foi o primeiro que eu já tinha visto". Para ele, o aplicativo é muito bom, mas não melhor do que os experientes na identificação de cantos, como o naturalista Nick Acheson.
Acheson não usa o Merlin. Ele o vê com bons olhos, mas aponta que o app pode substituir o aprendizado. “Qualquer coisa que leve as pessoas a sair de casa, pensar e reagir à natureza é algo ótimo”, diz. “Mas existe, sim, o risco de as pessoas não aprenderem e simplesmente transferirem a responsabilidade do aprendizado para o Merlin.”
Além disso, ele já percebeu uma falha em que o Merlin interpreta um certo tipo de canto do tentilhão como sendo de um rabirruivo, o que leva pessoas a ficarem absolutamente convictas de que há uma ave rara em seu jardim. “Não há substituto para uma pessoa de verdade explicando como um canto de pássaro ‘se sente’ e incentivando alguém a se envolver com isso emocionalmente”, afirma.
O app também já empolgou visitantes ao identificar um oriol-dourado, um migrante raro e ocasional, mas ninguém de fato viu a espécie.
Apesar das falhas, as pessoas consideram que o app é benéfico. Pesquisas mostram que o canto dos pássaros é particularmente bom para a saúde mental e tem um impacto positivo duradouro no bem-estar. Para milhões de pessoas ao redor do mundo, é exatamente isso que o Merlin está fazendo.
“Ele te lembra que os pássaros estão entrelaçados ao seu dia a dia”, diz Walter. “Não é sobre ‘agora vou fazer um pouco de observação de aves’; você pode simplesmente estar caminhando pelo parque, ouvir algo e ter a sensação de que esses pássaros estão cantando o tempo todo, mesmo em Londres.”


