Centro de São Paulo, uma das cidades afetadas por onda de calor — Foto: Getty Images via BBC News
Segue válido até as 18h desta terça-feira (30/12) um alerta de "grande perigo" do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para a onda de calor que tem atingido especialmente o centro-sul do Brasil.
O alerta - em vigor para áreas de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo - significa que os termômetros podem marcar 5ºC acima da média para dezembro durante cinco dias ou mais nessas regiões.
A onda de calor começou no dia 22 de dezembro diante da combinação de fatores atmosféricos típicos do verão, mas intensificada neste fim de mês.
O fenômeno é classificado assim pelos meteorologistas quando as temperaturas ficam significativamente acima da média por vários dias consecutivos.
O que chama atenção neste episódio não é apenas o calor pontual de uma tarde específica, mas a sua continuidade.
Diferentemente de picos isolados, comuns no verão, a atual configuração atmosférica favorece dias sucessivos de temperaturas altas, inclusive durante a noite e a madrugada, o que dificulta a recuperação do corpo humano e aumenta o desconforto térmico.
Segundo os dados consolidados do Inmet no domingo (28/12), das 10 cidades mais quentes do Brasil, quatro estão na faixa do alerta de "grande perigo" no Sudeste do Brasil. As outras seis são cidades do sertão do Nordeste, região tradicionalmente quente nessa época do ano.
Essas foram as maiores temperaturas do país no domingo:
A 125 km do Rio de Janeiro, Três Rios tem cerca de 80 mil habitantes. A cidade fica numa área de vale, o que dificulta a circulação de ventos e faz o ar quente "ficar preso". Já Caicó está no coração do semiárido potiguar, longe do mar, com muito sol e pouca chuva.
O Inmet também divulgou uma lista parcial com as quatro cidades que registraram até esta tarde as maiores temperaturas nesta segunda-feira (29/12). São elas:
A explicação central da onda de calor atual está na atuação de uma massa de ar quente e seco que se estabeleceu sobre o Centro-Sul do país. Esse sistema é reforçado pela Alta Subtropical do Atlântico Sul, um grande sistema de alta pressão que, neste momento, funciona como um bloqueio atmosférico.
Na prática, ele impede o avanço de frentes frias e de áreas de chuva mais organizadas, mantendo o ar quente "preso" sobre a região por vários dias.
Com menos nuvens e pouca circulação de sistemas de instabilidade, o solo recebe mais radiação solar durante o dia e perde menos calor à noite. O resultado são tardes muito quentes e madrugadas igualmente abafadas, um padrão clássico de onda de calor.
Esse tipo de bloqueio também ajuda a explicar por que as chuvas, quando ocorrem, são isoladas e de curta duração, insuficientes para aliviar o calor de forma mais ampla.
Outro ponto importante é o contexto do início do verão. Dezembro já é, historicamente, um mês quente em grande parte do Brasil.
Quando um bloqueio atmosférico se instala nesse período, ele tende a potencializar condições que já seriam naturalmente favoráveis ao calor, elevando ainda mais as temperaturas e aumentando a chance de recordes.
De forma geral, meteorologistas consideram que uma onda de calor ocorre quando as temperaturas ficam pelo menos 5 °C acima da média por um período mínimo de cinco dias consecutivos.
O Inmet adota um critério semelhante, mas considera a elevação em relação à média mensal, independentemente do número exato de dias, desde que o desvio seja significativo.
No episódio atual, os dois critérios são atendidos em várias regiões: as temperaturas estão persistentemente elevadas e se mantêm bem acima do padrão climatológico de dezembro. Esse caráter prolongado é o principal fator de preocupação para autoridades de saúde e defesa civil.
A recomendação das autoridades é reforçar a hidratação, evitar exposição prolongada ao sol nos horários mais quentes do dia e buscar ambientes ventilados sempre que possível. Em caso de sintomas mais intensos, a orientação é procurar atendimento médico ou acionar a Defesa Civil.


